light gazing, ışığa bakmak

Tuesday, December 27, 2016

The Salesman, Asghar Farhadi

Adoro Farhadi, não sei se encontro quem escalpelize melhor os sentimentos mais profundos e ocultos, aqueles que não querem ser vistos. mas tudo tem de ser visto com o maior cuidado. Farhadi conduz-nos por labirínticos caminhos, os seus, certas assunções insinuam-se na história e no estado das coisas, certas assunções tão finas como as mulheres de Pires Cardoso que persegui aqui há alguns anos.

"The film is a slow-burning, visceral drama that explores the psychology of vengeance and a relationship put under strain while continuing to explore the condition of women in Iran and the male psyche." uma frase que resume bem os temas centrais do filme. a psicologia não só da vingança mas sobretudo da dignidade masculina, a masculinidade e o que significa, bem como o que significa ser mulher. de novo, é a mulher do abusador quem é a mulher de quem se deve gostar, a mãe, a que carrega a família, a que devota a vida sem condições.

a imagem do prédio que se desmorona, as rachas nas paredes e no vidro, os moradores em fuga, é um imagem alargada da casa-relação entre as duas pessoas. uma escavação, o equivalente ao episódio de abuso da mulher, provoca o ruir do casamento. como se vão estas duas pessoas olhar depois de tudo? com a vergonha de se terem conhecido mais do que se queriam conhecer, como se dentro de cada pessoa existisse um lugar negro que ficaria melhor escondido.

"We’re caught up in something that can only be called suspense, and it’s galvanizing, but the suspense hinges purely on what’s going on in the characters’ hearts and minds." outra boa frase sobre este filme.

ultimately, Rana é ingrata pois não aprecia o marido dedicado e amoroso que tem. é verdade que sim, é um marido dedicado que a trata, pelo que vemos, como uma igual. mas é mesmo? o filme é sobre o trauma nele do abuso da mulher, uma distorção do olhar, como se ele fosse a verdadeira vítima, a honra manchada, o seu lar arrombado, ele que nada fez para o merecer, ele atencioso, talentoso, educado. ah, Farhadi, esse manobrador.

"But the real problem that Emad is dealing with is the emotional withdrawal of his wife. That’s what’s making him angry; that’s what he wants revenge for. Deep down (in a way that he has zero awareness of), he’s getting back at her. And that’s what makes the unfolding drama of “The Salesman” so tense and devastating. " exactamente. afinal, em muitos países muçulmanos, as mulheres atacadas passam a ser culpadas e muitas são assassinadas para expiar a culpa.
excelente review, aqui.


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