light gazing, ışığa bakmak

Sunday, February 17, 2013

Barbara can't cook

eu sabia que é preciso ver o filme antes de C.: assim, estava demasiado ávida por ver o catálogo, esperava At Last I am Free no final, sabia que os objectos tinham sido meticulosamente escolhidos mas que não se sobrepunham à história, sabia que ia procurar o duelo nos diálogos. uma outra nota, significativa, a diferença entre o ponto de vista do realizador e o ponto de vista da câmara da Stasi. significativa (para mim) porque a esta última nenhum de nós escapa hoje, não fazemos sequer ideia de quantas são as câmaras que nos filmam em cada dia que passa.

o último filme de alma alemã que tinha visto foi Amor, de Haneke. gostaria de ver um filme alemão em que não entrasse a crueldade. não sei o suficiente da Alemanha (e confesso que não pretendo saber) para poder apontar onde começou isto, se sempre foi assim, se a compulsão de causar dor existiu sempre ou desde quando, se um estrangeiro foi sempre estrangeiro daquele modo que senti em Hamburgo. tão a propósito, apesar de dolorosamente, a escolha de Huckleberry Finn para a leitura, no país em que a liberdade era possível.

a escolha tem de ser a da mulher, é a mulher que é encurralada entre 'dormir até tarde e não precisar de trabalhar' ou a honra moral de ficar e cumprir o seu destino.

não posso concordar com o título a rapariga da bicicleta. Barbara é uma mulher.

não é possível ser feliz aqui, diz Barbara. ser feliz é possível em quase todo o lado.

André é demasiado perfeito, não sei como pode André caber em 1980 com o seu ratatouille, as suas ervas em canteiros no jardim, o seu laboratório, as suas prateleiras de livros sobre médicos, o seu sorriso. André não pode existir. Barbara não podia saber cozinhar, ou seja, ela cabe no seu tempo, é uma personagem consistente e credível, verosímil, tal como são as suas motivações. Nina Hoss representa-a tão bem.

aquela floresta foi pintada por Klimt.

as cores são muito bonitas, nem exageradas como aqui, nem exageradamente polaroid como aqui. a opressão é normalmente cinzenta, mas assim nos enganamos pois, como a felicidade, é possível a infelicidade em quase todo o lado.

gostei de (re)ver o Báltico.
escrevia isto enquanto Marcelo diz que acredita que o papa é escolhido por 'inspiração divina'. não sei se ouvi bem.

(boa pergunta: “What happens to dreams when they change into nightmares or change into nothing?")

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